18 setembro 2010

De Ferreira Gullar, excelente artigo: " Vamos errar de novo?"


FAZ MUITOS ANOS já que não pertenço a nenhum partido político, muito
embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida
do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em
função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos,
buscando sempre examinar os fatos com objetividade.
Minha história com o PT é indicativa desse esforço por ver as coisas
objetivamente. Na época em que se discutia o nascimento desse novo
partido, alguns companheiros do Partido Comunista opunham-se
drasticamente à sua criação, enquanto eu argumentava a favor, por
considerar positivo um novo partido de trabalhadores. Alegava eu que,
se nós, comunas, não havíamos conseguido ganhar a adesão da classe
operária, devíamos apoiar o novo partido que pretendia fazê-lo e,
quem sabe, o conseguiria.
Lembro-me do entusiasmo de Mário Pedrosa por Lula, em quem via o
renascer da luta proletária, paixão de sua juventude. Durante a
campanha pela Frente Ampla, numa reunião no Teatro Casa Grande, pela
primeira vez pude ver e ouvir Lula discursar.
Não gostei muito do tom raivoso do seu discurso e, especialmente, por
ter acusado "essa gente de Ipanema" de dar força à ditadura militar,
quando os organizadores daquela manifestação -como grande parte da
intelectualidade que lutava contra o regime militar- ou moravam em
Ipanema ou frequentavam sua praia e seus bares. Pouco depois, o
torneiro mecânico do ABC passou a namorar uma jovem senhora da alta
burguesia carioca.
Não foi isso, porém, que me fez mudar de opinião sobre o PT, mas o
que veio depois: negar-se a assinar a Constituição de 1988, opor-se
ferozmente a todos os governos que se seguiram ao fim da ditadura -o
de Sarney, o de Collor, o de Itamar, o de FHC. Os poucos petistas que
votaram pela eleição de Tancredo foram punidos. Erundina, por ter
aceito o convite de Itamar para integrar seu ministério, foi expulsa.
Durante o governo FHC, a coisa se tornou ainda pior: Lula denunciou o
Plano Real como uma mera jogada eleitoreira e orientou seu partido
para votar contra todas as propostas que introduziam importantes
mudanças na vida do país. Os petistas votaram contra a Lei de
Responsabilidade Fiscal e, ao perderem no Congresso, entraram com uma
ação no Supremo a fim de anulá-la. As privatizações foram
satanizadas, inclusive a da Telefônica, graças à qual hoje todo
cidadão brasileiro possui telefone. E tudo isso em nome de um
esquerdismo vazio e ultrapassado, já que programa de governo o PT
nunca teve.
Ao chegar à presidência da República, Lula adotou os programas contra
os quais batalhara anos a fio. Não obstante, para espanto meu e de
muita gente, conquistou enorme popularidade e, agora, ameaça eleger
para governar o país uma senhora, até bem pouco desconhecida de
todos, que nada realizou ao longo de sua obscura carreira política.
No polo oposto da disputa está José Serra, homem público, de todos
conhecido por seu desempenho ao longo das décadas e por capacidade
realizadora comprovada. Enquanto ele apresenta ao eleitor uma ampla
lista de realizações indiscutivelmente importantes, no plano da
educação, da saúde, da ampliação dos direitos do trabalhador e da
cidadania, Dilma nada tem a mostrar, uma vez que sua candidatura é
tão simplesmente uma invenção do presidente Lula, que a tirou da
cartola, como ilusionista de circo que sabe muito bem enganar a
plateia.
A possibilidade da eleição dela é bastante preocupante, porque seria
a vitória da demagogia e da farsa sobre a competência e a dedicação à
coisa pública. Foi Serra quem introduziu no Brasil o medicamento
genérico; tornou amplo e efetivo o tratamento das pessoas
contaminadas pelo vírus da Aids, o que lhe valeu o reconhecimento
internacional. Suas realizações, como prefeito e governador, são
provas de indiscutível competência. E Dilma, o que a habilita a
exercer a Presidência da República? Nada, a não ser a palavra de
Lula, que, por razões óbvias, não merece crédito.
O povo nem sempre acerta. Por duas vezes, o Brasil elegeu presidentes
surgidos do nada -Jânio e Collor. O resultado foi desastroso. Acha
que vale a pena correr de novo esse risco?
Por Email: Paulo Tanner

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