10 novembro 2017

Queríamos discutir o racismo, afirmam responsáveis por vazamento de vídeo de Waack

Por João Guimarães/Jovem Pan
Um vídeo que está circulando na internet virou de ponta cabeça a vida do jornalista William Waack.
Nas imagens, Waack se prepara para uma entrevista durante a cobertura das eleições norte-americanas do ano passado, quando alguém na rua começa a disparar uma buzina na rua. Contrariado, ele xinga a pessoa e depois solta um comentário que aparentemente diz: “é coisa de preto”.
Jovem Pan conseguiu conversar com exclusividade com os responsáveis pelas imagens. São eles: o operador de VT Diego Rocha Pereira, 28; e o designer gráfico Robson Cordeiro Ramos, 29. Ambos também são produtores de uma festa de música negra na cidade de São Paulo.
A imagem original foi obtida por Diego, que é ex-funcionário da Rede Globo. De acordo com ele, a equipe de link externo se preparava para a entrada de Waack com um consultor. Para quem não sabe, mesmo quando não está sendo transmitido na televisão, os operadores têm acesso às imagens do link. “Tudo aconteceu enquanto a produção estava colocando o microfone nele”, explica Diego. “Eu ainda voltei as imagens para ter certeza, não estava acreditando que ele teria falado aquilo. Fiquei tão revoltado que filmei com meu celular”.
Já a divulgação do vídeo foi feita por Robson. “Soltei o vídeo em um grupo de líderes do movimento negro”, afirma. “Mas não foi premeditado essa repercussão, a ideia era mostrar para os amigos que um jornalista influente como ele também poderia ser racista”.
Indagados por que só divulgaram o vídeo agora, quase um ano depois, ambos explicam que já haviam mostrado isso para a imprensa, mas não teve a mesma repercussão de agora. “Chegamos a ouvir, ‘se não é do William Bonner’, não interessa”, diz Ramos.
A dupla também rebate os comentários negativos que estão surgindo na internet. “Se nosso objetivo fosse fama ou dinheiro, teríamos feito antes”,  diz Ramos.
Diego afirma que chegou a perder o material em um determinado momento. “O vídeo original ficou em um celular que perdi durante o Carnaval. Mas o Robson tinha ele em um backup, quando foi atualizar o telefone recentemente, o vídeo apareceu”, detalha o operador de VT.
Indignação
Tanto Ramos quanto Pereira são negros e dizem se sentir afetados com o comentário. Os dois afirmam que a maior indignação é que o tipo de comentário que Waack fez parece ser algo natural para ele. “Ele faz o comentário de graça, tá tudo normal no estúdio, e ele fala de graça”, diz. “Eu me revolto porque ele [Waack] trabalha com milhões de negros dentro da Globo. Ele é o âncora, ele traz a informação, mas em volta dele tem um monte de negros trabalhando. Fico imaginando como ele é fora da câmera”, diz Ramos.
Ramos acredita que devido ao fato de o jornalista ser considerado referência intelectual no País, as pessoas vão olhar com outros olhos para a questão racial. “As pessoas vão pensar: ‘olha o que aconteceu com ele, se eu tiver a mesma atitude, acontecerá comigo também'”
Para Diego, outra parte negativa da situação é a reação das pessoas na momento do comentário. Em sua visão, atitudes racistas como a do apresentador precisam ser combatidas no cotidiano. “Ele não foi repreendido depois. Ali estava cheio de gente, tinha coordenador, diretor de imagem, o próprio entrevistado poderia ter reclamado da ‘piadinha'”, afirma Diego.
Afastamento
Após as acusações de racismo contra William Waack, a Rede Globo decidiu, na noite da última quarta-feira (8), afastar o jornalista do comando do “Jornal da Globo”. A emissora disse ser contra qualquer tipo de manifestação racial e que o veterano de 65 anos ficará longe de suas atividades até que a situação seja esclarecida.
“A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante. Diante disso, a Globo está afastando o apresentador William Waack de suas funções em decorrência do vídeo que passou hoje a circular na internet, até que a situação esteja esclarecida”, informou.

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