
Os cerca de 30 quilômetros que separam o povoado de Canarana do centro de Arari, cidade maranhense de 30 mil habitantes às margens do Rio Mearim, é percorrido por uma estrada de terra. O trajeto leva em torno de 40 minutos na maior parte do ano, menos no “inverno”, como é chamada a época de chuvas na região. Neste período, as vias se tornam quase intransitáveis, e moradores relatam ser comum a comunidade ficar isolada, sem acesso a hospitais e escolas, por exemplo.
— Ano passado ficamos 20 dias sem poder sair daqui. A estrada é tudo para nós: é para ir ao hospital, fazer compras, levar as crianças à escola. Sem estrada, a gente fica isolado — conta a lavradora Dulce da Conceição Bezerra da Costa, que disse ter se cansado de ouvir promessas de políticos sobre a melhoria da via.
Entre esses políticos, segundo dona Dulce, está o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (MA), líder do União Brasil na Câmara e autor de uma emenda de R$ 1,25 milhão para recuperar estradas vicinais de Arari. O recurso chegou a ser enviado para a cidade em agosto de 2023, mas tomou outro caminho. Segundo a atual prefeita, Maria Alves Muniz (MDB), o dinheiro sumiu.
— Esse valor simplesmente desapareceu. Não foi para obra nenhuma — afirmou a prefeita, que alega ter herdado as contas da prefeitura zeradas do antecessor, Rui Filho (União Brasil), seu adversário político.
O caso ilustra a falta de controle sobre emendas parlamentares, que entraram no foco do STF desde o ano passado e têm motivado preocupações de integrantes do Congresso, que veem na ofensiva uma tentativa de reduzir a influência do Legislativo no Orçamento da União. Em uma série de decisões, o ministro Flávio Dino determinou o bloqueio de repasses, mudanças nas regras para aumentar a transparência e um pente-fino nos mais de R$ 30 bilhões enviados a municípios na modalidade Pix, em que o valor total é transferido de uma vez só, sem a necessidade de vinculação a projetos específicos e sem passar pelos filtros do governo federal.
o globo
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