17 maio 2020

Jurivê e eu, por Edmilson Sanches

90 anos de nascimento, 10 de sua morte (2)
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JURIVÊ E EU

Jurivê de Macedo, jornalista pioneiro, fundador -- com José Matos Vieira -- de "O Progresso", de Imperatriz (MA), nasceu em 16 de maio. No dia seguinte, morreu.

Explico: O jornalista Jurivê de Macedo nasceu em sua goiana (hoje tocantinense) Porto Nacional em 16 de maio de 1930. Exatos 80 anos e um dia depois, em 17 de maio de 2010, faleceu em hospital de Imperatriz.

Jornalista, advogado, professor, Jurivê deixou impressa sua marca tríplice em pessoas e papéis.

Havia uns trinta anos que eu e Jurivê de Macedo nos conhecíamos. Frequentemente em redações, aqui e acolá em um discreto bar, algumas vezes em bancos de praça, raras vezes em mesas de recepções, hora ou outra pelas ruas, repetidas vezes em sua residência, raramente na minha... Sempre nos encontrávamos, conversávamos.

Com sua morte, ficaram as lembranças, algumas delas escritas
-- as que escrevi sobre ele e as que ele vez em quando me surpreendia, escrevendo sobre algo de mim, a exemplo das que se reproduz abaixo.

Há dez anos Jurivê escreve com tinta de estrelas no azul dos céus...

EDMILSON SANCHES
esanches@jupiter.com.br

TEXTOS DE JURIVÊ DE MACEDO
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ED SANCHES E A VACA

O sertanejo do meu Goiás costuma dizer que “a vaca está lambendo a cria”, quando ele nota alguém dedicar-se com muita atenção ao trabalho que faz. É a vocação da vaquinha leiteira ali no pátio da fazenda acariciando o bezerro via das lambidelas maternais. Segundo dicionaristas consultados, “lambido” é, entre outras coisas, a obra de arte demasiadamente polida, excessivamente retocada.

Ontem (dia 15), foi fechado o primeiro ano da colaboração espontânea, não onerada, regular, variada e apreciada do jovem Edmilson Sanches a este jornal. Uma vez por semana o leitor encontra ou na página 5 ou na 7 a coluna “ETC – Gente e Negócios”, de autoria do moço bancário e universitário, que coerentemente a divide entre informações da área econômica e tiradas literárias de fino gosto e boa lavra. Às vezes ele participa de outras seções semanais do jornal, como agora no “S. O. S. SECA” -- momentos de solidariedade – ou em tiradas puramente literárias. Numa e noutras, ele tem o seu público certo.

Para quem lê o que Edmilson escreve, o registro da data já seria o suficiente para o “parabéns a você”.

Somente quem acompanha esse trabalho, porém, pode dizer ao leitor, na boa e gostosa “língua brasileira”, que bote parabéns nisso! Porque, se Sanches merece elogios pelo trabalho feito, muito mais merece ele pela dedicação artesanal a cada coluna, linha, cada palavra que leva ao público ledor.

É a típica comparação da vaca que lambe a cria. Sanches chega a exagerar os cuidados com suas páginas e tem nos linotipistas, nos revisores e nos paginadores o seu tormento maior, que é ele um atormentado pelo medo já exagerado da palavra errada, do visual eventualmente canhestro da página, dos saltos que cortam o sentido da matéria e dessas coisas com as quais não sonha o leitor, mas só quem vive aqui dentro pode saber como acontecem e por que acontecem.

Acho que Sanches tem duas noites de insônia garantidas por semana: uma em que ele prepara a matéria, datilografando, burilando, retocando cada linha, cada verbo, cada preposição, e a noite que antecede a circulação do jornal, que essa ele a passa atormentado pelo fantasma do possível erro, da falta de uma vírgula, de um acento, de uma linha. Isso, fora as chamadas telefônicas incontáveis e certeiras de cada 2ª-feira: “ -- Juredo, estou aqui lendo a cópia da minha matéria e notei que na página tal, linha tal, a palavra de número tal pode ser trocada por outra... ali, na linha número tal, está uma preposição que eu gostaria que você mudasse por tal, tem ali um infinitivo que não me parece bem colocado... aquele prenome de linha tal eu o coloquei proclítico, não seria melhor o enclítico?”

E por aí as correções à distância e até pessoalmente, porque ele vem sempre à tarde, para dar a última lambidela na cria. E no dia seguinte... “Juredo, aquele tipo é feio... Estraga o visual da página... Aqueles títulos podiam ser feitos numa letrinha maior... A página está com a matéria muito embutida” (ele se esquece de que sempre escreve demais e a página do jornal não é elástica).

Enfim, esse o Sanches que o leitor conhece através da leitura do “ETC. – Gente e Negócios”, mas está longe de imaginar o atormentado artista da palavra e da notícia que ele é. O leitor que se delicia com a informação, que gosta dos dados estatísticos e das passagens literárias daquela página, está longe de imaginar o quanto sofre Sanches a cada semana, para escrever tudo aquilo! Não imagina quanta lambida o criador dá na sua criatura semanal.

Ao Ed Sanches, pelo que ele faz, pelo que nos traz e, acima de tudo, pela dedicação imensa dada ao trabalho sempre elogiado, o abraço aqui do nem tanto artesão da palavra, mas admirador de verdade da parição dele pelo que bota no jornal, na boca e nos olhos do leitor. E o abraço amigo da turma toda cá de casa pela primeira velinha de “ETC. – Gente e Negócios”.

(JURIVÊ DE MACEDO – coluna Comentando os Fatos – jornal “O Progresso”, Imperatriz, 16 de agosto de 1983)

*

ELE SÓ

Tô lendo duas notas de Edmilson Sanches. Uma sobre o blá-blá-blá que já se criou na terra em torno da falada Academia de Letras. A outra sobre a retirada do ar do programa radiofônico “Radioatividade”, da Terra FM.

Para efeito externo, nunca Edmilson Sanches foi tão ele próprio do que nessas duas notas onde botou pra fora tudo aquilo a que tem direito.

Aliás, o “Radioatividade”, na Terra FM, não podia mesmo ter vida duradoura pela própria razão de ser do programa. Aquilo em emissora de político é uma poderosa faca de dois gumes, já que o programa não era censurado. E vai daí...

E como em telhado de vidro se atiram pedras, a emissora achou mais cômodo podar o programa. A opinião pública que se lixe!

(JURIVÊ DE MACEDO – coluna Comentando os Fatos – jornal “O Estado do Maranhão”, São Luís, 05 de abril de 1989)

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NA TERRA

O nosso poeta e escritor Edmilson Sanches, que, “por uma fatalidade dessas que vêm do além”, também é bancário, estará por alguns dias na Imperosa-city para tratar de assuntos particulares. Sanches figura hoje entre os componentes do Departamento de Crédito Geral da agência central [direção geral] do BNB em Fortaleza. Ele faz parte do seleto grupo de dez funcionários, entre sete mil deles espalhados pelo Brasil, que a nova direção geral do Banco do Nordeste convocou para sua assessoria. Somente esse detalhe da escolha já significa a competência do moço, que, lamentavelmente para a inteligência imperatrizense, vai deixando a terra.

Repercussão - Ainda de Edmilson Sanches: ele teve um ocasional encontro a bordo, na sua vinda até aqui, com o produtor-animador-compositor e cantador Rolando Boldrin, este a caminho de São Luís. Durante a conversa, Boldrin falou a Sanches sobre o maranhense Lourival Tavares, saído de Imperatriz para cantar num dos programas “Empório Brasileiro”, do próprio Boldrin, que acha Lourival um valor que precisa de apoio para se projetar no cenário da música popular brasileira. Por incrível que pareça, Boldrin lembrou até a música cantada por Lourival no programa dele, o que demonstra que o maranhense impressionou o paulista.

(JURIVE DE MACEDO – coluna Comentando os Fatos – jornal “O Estado do Maranhão”, São Luís, 04 de setembro de 1985)

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PASSAPORTE
A caminho de Fortaleza, chamado pela direção geral do Banco do Nordeste do Brasil, lá vai Edmilson Sanches, poeta e escritor por convicção e bancário por necessidade. Ele, que antes já fora lembrado pelo Departamento de Recursos Humanos do BNB, agora vai a chamado do Departamento de Crédito Geral para uma das assessorias na direção geral do banco.

Sanches, que ontem deixou Imperatriz, vai em regime de “adição”, o que, em linguagem bancária, vale dizer experimentação. Vai ver se a mudança dá certo, se lhe convém, antes da decisão final.
Embora a frieza da papelada burocrática não revele a causa da transferência de Sanches, pode-se afirmar que o culpado de tudo que acontece em torno da mudança foi o discurso por ele feito, lá mesmo em Fortaleza, em junho último, quando do encerramento de um curso interno de que participou. Esse discurso, que é uma verdadeira peça literária, acabou agradado tanto a alta direção do BNB que agora Imperatriz corre o risco de perder Edmilson Sanches.

(JURIVÊ DE MACEDO – jornal “O Estado do Maranhão”, São Luís, 04 de agosto de 1985)

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ATÉ A VOLTA

Quando você, leitor, estiver lendo estas mal traçadas linhas, estarei eu lá no meu Goiás, talvez já na minha Porto Nacional.

Deixei a Imperosa-City ontem no início da noite. Vou rever dona Fanny e vou também levado por informações pouco agradáveis sobre a saúde dela e de uma tia que já ultrapassou a barreira dos 95 anos de idade. E a minha esperança é um Dia das Mães ao lado de Fanny, com a saúde recuperada e a tia nas mesmas condições.
Ficam com vocês o Coló Filho, a Ana Tereza e o Carlos [Gaby], com a valiosa e sempre esperada participação de Clemente Viegas, do Edmilson Sanches ( o poeta) e de colaboradores eventuais.

E, por falar em Edmilson Sanches, por que não um título de cidadania imperatrizense para esse moço que tanto tem divulgado o nome da cidade nos seus escritos jornalísticos, na sua efetiva colaboração prestada a diversas entidades locais, inclusive ao Juçara e agora à Associação Comercial? Esse caxiense culto e amigo bem que está a merecer o registro da gratidão

imperatrizense pelo trabalho que ele tem feito e pelo amor que ele tanto tem declarado por Imperatriz. Fica a sugestão.

(JURIVÊ DE MACEDO – coluna Comentando os Fatos – “Jornal de Imperatriz”, 08 de maio de 1986)

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Foto: Jurivê de Macedo sendo cumprimentado por Edmilson Sanches, em solenidade da Academia Imperatrizense de Letras, Jurivê; e como Procurador do Município de Imperatriz, em companhia dos jornalistas Edmilson Sanches (primeiro à esquerda), Aurino Brito e Josué Almeida Moura.

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