A médica e o monstro: ex-secretária de saúde de Imperatriz na mira do MPF por improbidade administrativa

O romance de Robert L. Stevenson, o Médico e o Monstro, mundialmente conhecido por sua narrativa sombria e que revela a dualidade da personalidade humana entre o médico Jekyll e sua canalização monstruosa Mr. Hyde, é, entre outras instâncias de entendimento psicológico, a materialização de desejos íntimos, artimanhas ocultas e impulso da inglória satisfação pessoal de ser, aos olhos dos outros, a imagem de leveza e pureza moral.

Mr. Ildon e Dra. Rosângela: a parceria de ambos coagula
por ação civil de improbidade administrativa movida pelo MPF
(Foto: Pinheiro)

A alegoria dos dois personagens de Stevenson, guardadas as devidas proporções fictícias, não mensura facilmente estágios da vida pública de entes reais tão próximos aos personagens que abordamos aqui, porém em um passado não muito distante, a alusão a eles nos move ao deboche de dois seres que coexistem numa arquitetura danosa ao erário público, numa sublime linha que colidem criador e criatura.

Nos blogues da cidade já se noticia a manifestação de apoio público do ex-prefeito Ildon Marques a Rosângela Curado. Uma espécie de demonstração simbiótica de gestor e gestora de suposta primeira linha. Ildon e Rosângela que se cruzariam agora na labuta da campanha, não esperava que uma ação de improbidade administrativa, movida pelo Ministério Público Federal envolvendo o nome de sua cria e de mais quatro ilustres personagens da saúde, começa a ganhar outros desdobramentos. O dissabor judicial tem um detalhe curioso: diferente de seus pares, a ex-secretária de saúde há tempos ignora o processo e, como na origem do expediente, o MPF/MA requer a condenação de todos os envolvidos, se avizinha assim a ela tal pesar.

Eis que se desenha o espelho contraditório da aliança entre a médica e o monstro, que agora tentam vender a ideia de serem paladinos da saúde pública, mas estão embaralhados em pendências judiciais por atuarem numa área que, a toque de caixa, definharam a saúde pública e por ironia do destino fazem juras de amor, mas peregrinam em solavancos pela vigilância do Ministério Público ante a imoral conduta de gerenciar recursos públicos.

A aproximação de Ildon a Rosângela somado a herança judicial de sua administração despertou uma prece entre seus correligionários e simpatizantes que lembra em muito uma passagem do personagem Dr. Jekyll no livro de Stevenson: “(...) ambos travam um eterno combate no íntimo da natureza humana, e contudo, estão atados um ao outro. E este elo provoca a repressão ao mau e remorsos no bom. Agora, se esses dois seres pudessem ser separados um do outro, quão livre o bom em nós poderia ser, que alturas poderia alcançar! E o assim chamado mal, uma vez liberto, buscaria sua própria realização, e deixaria de nos perturbar...".

Por Samuel Sousa