18 novembro 2017

Em artigo, senador Roberto Rocha diz que transposição das águas do Tocantins para o São Francisco é um devaneio

O DEVANEIO DAS ÁGUAS

Roberto Rocha
Chegou ao Senado Federal, já aprovado na Câmara, um projeto que está sendo discutido há 20 anos que propõe transpor as águas do rio Tocantins para o rio São Francisco. Para qualquer maranhense que mora à margem do rio, soa como se obrigássemos um anêmico a doar sangue.
É compreensível o esforço para manter o velho Chico em sua pujança original. O São Francisco é como um milagre que corta a zona mais árida do país, garantindo vida para milhares de pessoas. Mas é preciso tratar o tema com serenidade e rigor técnico.

Como iniciar uma obra que demandaria mais de 700 quilômetros de canais, com um desnível acentuado entre a captação e a entrega da água, o que implica altíssimo custo de energia para o bombeamento, da ordem de R$ 500 milhões por ano, dos quais R$ 300 milhões só para energia?

Imagine-se o esforço de engenharia para captar as águas do Tocantins e elevá-la a mais de 300 metros até o São Francisco, atravessando biomas diferentes, climas distintos, toda uma ictiofauna com espécies diversas.

Outro agravante é que o aquífero que abastece o Tocantins, o Urucuia, é um dos mesmos que abastece o São Francisco. E esse aquífero vem perdendo força no Cerrado, por conta do uso indiscriminado dos solos, que vem perdendo a capacidade de alimentar seus aquíferos.

A saída para o problema do São Francisco não está em comprometer outros rios, a um custo astronômico. Mais inteligente é preservar o Cerrado, pra evitar a impermeabilização, garantindo a saúde da “caixa d`água” do país, que é o complexo de aquíferos situado no Cerrado.

Há que se investir também na revitalização do rio São Francisco, com um plano sério que impeça a expansão indiscriminada de novos projetos de irrigação e uso da água, além, é claro da necessidade de recompor as matas ciliares, as encostas e áreas de recarga.

Esse é o sentido de estarmos discutindo, em todo o Maranhão, a questão da Revitalização dos Rios Maranhenses e suas Nascentes. Não queremos chegar ao ponto em que se vêem agora nossos irmãos nordestinos, projetando mirabolantes intervenções tecnológicas para salvar o seu mais importante rio.

Não contem com meu voto para esses devaneios.

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