10 fevereiro 2019

Estreias na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal sinalizam tempos de duros embates entre Situação e Oposição

Por Ribamar Corrêa

Duas estreias ocorridas ontem, uma na Assembleia Legislativa e outra na Câmara Federal, sinalizaram, com clareza, que está em curso uma nova interpretação da realidade política no Maranhão. No parlamento estadual, um aparte do deputado estreante Duarte Jr. (PCdoB) ao medalhão tarimbado César Pires (PV), desestabilizou o roteiro no qual deputados de todas as cores se apresentavam com o discurso padrão dos bem-chegados, cheio de júbilo pelo fato de estarem ali para cumprir uma grande missão. Na Câmara Baixa, onde desaguam os anseios, expectativas e cobranças da sociedade, o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB) iniciou sua trajetória na tribuna declarando guerra sem trégua a todo e qualquer item da proposta de reforma da Previdência que suprima algum direito já consolidado. Sem qualquer ligação um com o outro, salvo o fato de os dois protagonistas pertencerem ao mesmo partido, os dois movimentos mostraram que a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal serão efetivamente campos de batalha para os dois parlamentares, que parecem dispostos ao enfrentamento com as suas antíteses políticas.

O deputado Duarte Jr. entrou para os anais da Assembleia Legislativa ao rebater afirmações feitas pelo deputado César Pires, que do alto da sua fama intelectual fazia um discurso professoral sobre a origem do parlamento, viajando por milênios da Índia primitiva à Assembleia Legislativa do Maranhão, passando por Grécia, Roma, Inglaterra, França, etc. Só que, com habilidade retórica, recheou seu discurso com críticas ferinas ao atual Governo do Estado, entre elas a afirmação de que no Maranhão não existe nem proteção nem defesa do consumidor. Inteligente e atento a cada palavra, Duarte Jr. reagiu com um aparte, no qual rebateu a crítica afirmando que existe sim defesa do consumidor no Maranhão, lembrando que essa defesa foi intensificada e ampliada durante sua gestão no Procon. E foi mais além ao revelar que naquele período o deputado César Pires o contatou duas vezes por telefone para tentar impedir a fiscalização no supermercado Jumbinho, pertencente a pessoas ligadas ao deputado do PV e onde, segundo ele, foram encontradas diversas irregularidades.

O contundente aparte do Duarte Jr. provocou dura reação de César Pire, que abandonou a erudição e o ar professoral para desancar o jovem e impetuoso deputado, chamando-o de “mentiroso” e de “despreparado”, chegando inclusive a insinuar que na gestão de Duarte Jr. o Procon teria sido usado para achacar empresários. Só que, apesar da pancadaria verbal a que foi submetido, Duarte Jr. não se dobrou, reagindo a cada ataque. Diante da forte tensão que tomou conta do plenário, o presidente da sessão, deputado Glalbert Cutrim (PDT), teve de agir com firmeza para acalmar os ânimos. César Pires tentou retomar sua viagem erudita pela história do parlamento, mas acabou fechando seu discurso afirmando, em tom elevado, que “Ninguém vai me calar”. Duarte Jr., por seu turno, foi depois à tribuna e, aliviando os termos, mas não a ênfase, acusou César Pires de fazer discursos vazios e reafirmou o anúncio: vai reagir a qualquer ataque à sua gestão no Procon e ao Governo Flávio Dino. Deixou no ar a nítida impressão de que fará diferença no planário.

Em Brasília, o deputado federal Márcio Jerry estreou ontem na tribuna batendo forte contra os riscos à democracia. Ele conclamou a Câmara Federal a defender o estado democrático de direito vigente no Brasil, que no seu entendimento está ameaçado. A defesa da democracia deve ser item destacado da pauta do parlamento no atual momento que o país atravessa. “É importante que a gente uma vez mais pronuncie bem alto “nenhum direito a menos”, defendeu. A manifestação de Márcio Jerry foi feita no contexto de um forte alerta em relação à proposta de Reforma da Previdência do Governo Jair Bolsonaro, que na sua avaliação inicial poderá extinguir direitos, o que não é aceitável. Na sua avaliação, a PEC em gestação no Ministério da Economia pode acabar pesando no bolso dos mais pobres, já que a proposta prevê, por exemplo, que quem quiser receber 100% do benefício terá de trabalhar 40 anos, além de pagar um sistema de capitalização obrigatório. “É preciso que a gente discuta o direito à Previdência, não subtraindo de quem já tem muito pouco, mas fazendo com que a elite brasileira e o sistema financeiro, àqueles que muito possuem, possam colaborar para que tenhamos uma Previdência justa”, destacou o parlamentar do PCdoB, que expressa também o pensamento do governador Flávio Dino.

O aparte do situacionista Duarte Jr. contra uma investida do oposicionista César Pires e o discurso do oposicionista Márcio Jerry são sinais fortes de que os próximos tempo serão de animados e animadores confrontos verbais.

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