11 setembro 2011

ARTIGO: "Cuidado com os coitadinhos".

por Onofre Corrêa.
Recentemente, assistimos a uma grande “demonstração de justiça” na mais rica nação do mundo. Falo da espetacular e espetaculosa prisão do diretor-presidente do Fundo Monetário Internacional - FMI, Dominique Strauss-Kahn, em 14 de maio, denunciado por abuso sexual a uma pobre camareira, imigrante da Guiné (África), no sofisticado Sofitel, em Nova York.

A quase unanimidade da opinião pública aplaudiu a Justiça, por alcançar um dos homens mais poderosos do mundo. Via-se no episódio a oportunidade de um acerto de contas entre a Europa e a África – o dominador Europeu e o oprimido Africano.
“Tá vendo? Só mesmo nos Estados Unidos para um poderoso ir em cana por abuso” – proclamavam alguns, subentendendo-se que o tarado da ocasião receberia outro tratamento se o caso houvesse ocorrido no Brasil.

Gracejos à parte, o fato é que a incorporação do sentimento de culpa gerado por uma formação cultural enviesada, promovida, ao longo de muitas décadas, por políticas de estado equivocadas, impossibilita-nos de ver os fatos de forma realista e, quando os enxergamos, sempre o vemos de forma vesga, míope ou distorcida.

 Contribuiu para essa distorção em nosso comportamento a influência de uma escola de pensamento revisionista, ideologicamente comprometida, que nos responsabiliza por políticas públicas, costumes ou situações diversas, certas ou erradas, mas inerentes ao seu próprio tempo, de acordo com o contexto em que se vivia. A casa grande e senzala, por exemplo, constituíam um ambiente sociologicamente aceito em sua época, mesmo que hoje sejam consideradas uma aberração. De qualquer forma, não nos compete mudar o passado; quando muito, dele se podem tirar lições.

Esse movimento revisionista, na tentativa de reescrever a história, ganhou contornos claros na segunda metade do século passado e, em nosso País, fortaleceu-se com a chegada ao poder do que denominam movimento de esquerda. Para se ter uma idéia do absurdo, culpam-nos pela Guerra do Paraguai e pela escravidão, por exemplo, além de várias outras máculas do passado, do ponto de vista atual. Aos movimentos ditos sociais, coube a tarefa de disseminar a culpa e comercializar a proteção aos desassistidos (coitadinhos). E hoje temos ONGs para toda sorte de consumo.

Assim, do campo macro exemplificado, transpomos para o nosso dia-a-dia esse pensamento piedoso e reparador de “injustiças” seculares a nós culturalmente imputadas. Daí, a criação da figura do coitado e oprimido foi somente uma questão de tempo. Incutiram-nos uma visão única e, desde cedo, aprendemos a enxergar um só lado da história, em que, na maioria das vezes, a razão cede ao emocional
Pois bem, no escândalo acima mencionado, esse pensamento meio fascista e tortuoso caiu por terra diante das revelações surgidas no decorrer das investigações da culpabilidade do político francês presidente do FMI. A pobrezinha camareira de origem africana tinha mentido e a Promotoria concluiu pela inocência de DSK. Circo desfeito, não seria desta vez que o mundo assistiria à punição do colonizador, rico e opressor, para azar das esquerdas esquizofrênicas. Repito: não seria desta vez a vingança do colonizado sobre o colonizador. Os que torciam pela humilhação do diretor-presidente da maior instituição financeira do mundo deram com os burros n’água.

O dito popular nos ensina que no filme da vida só há lugar para mocinhos, mas o episódio revelou que todo coitadinho também tem sua história. Foi o que se pôde deduzir da seqüência de avaliações equivocadas do lamentável acontecimento. Que nos sirva de lição para evitarmos julgamentos apressados e tendenciosos.
Do episódio, concluímos, ainda, que as vaidades contribuíram para uma falha descomunal – vaidade, sobretudo, dos agentes públicos. Não conseguiram manter a isenção exigida na busca da verdade, que veio, mesmo que tarde. É provável que a polícia de Nova York, ao cometer tamanhas trapalhadas, tal como a de Londres, no assassinato do conterrâneo Jean Charles, reveja seus métodos, desfazendo-se de suas paranóias. Para pensarmos coletivamente. E a reputação de DSK, como fica? E a vida de Jean Charles?
Essa histeria coletiva que ora aflige segmentos importantes da sociedade exige de todos nós profundas e permanentes reflexões. Urge compreendermos as mutações por que vem passando a sociedade nos mais variados períodos da história, sem legarmos às futuras gerações fardos pesados de responsabilidade por equívocos promovidos no presente.
Que nos sirva de lição.

*Onofre Corrêa, ex-constituinte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabens Onofre Correa, não conhecia esse seu lado, que artigo cara!

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